As religiões nem sempre foram caminhos de
autonomia para o ser humano. Infelizmente foram muito mais caminho de
heteronomia e de violência. (Autonomia significa algo que se move por si mesmo,
que anda com as suas próprias pernas. Heteronomia significa que para andar
precisa ser empurrado, alguém tem que empurrar). E você como cristão é autônomo
ou heterônomo?
Os críticos das religiões têm razão na hora
de criticar que na história da humanidade as religiões serviram muito mais como
opressão, de violência e de heteronomia do que realização do bem e da justiça.
As três religiões monoteístas: Judaísmo,
Cristianismo e o Islamismo têm nas suas histórias momentos cruéis, nenhuma delas
é limpa e imaculada; ao contrário, infelizmente cada uma delas têm manchas
terríveis na sua história. Os judeus foram cruéis em nome de Javé ao invadir a
terra que era de outros povos. Os cristãos foram cruéis em nome de Cristo ao
conquistar povos e justificar até mesmo a escravidão. O islamismo continua sendo
utilizado de modo extremista até hoje. São apenas exemplos de que nenhuma dessas
três religiões monoteístas encontra-se limpa. Não se trata tampouco de dizer
qual delas cometeu maior mal no mundo (aqui entre nós, creio que os bancos e os
governos corruptos fizeram muito mais mal no mundo do que essas três religiões
juntas).
Não vou fazer aqui uma crítica gratuita às
religiões, a única intenção aqui é a formação, pois o saber, o conhecer, pode
nos ajudar no momento de amarmos mais.
O que devemos nos perguntar é se as religiões
são mesmo caminho de maldade em si mesma ou não. A resposta deve ser não, pois
como é que podemos seguir uma religião sabendo que ela faz mal às pessoas?
Vamos procurar fundamentar a nossa resposta.
A religião para ser autêntica deve ser
caminho de liberdade, deve ser caminho de autonomia e não de opressão ou de
heteronomia. Ninguém gosta de ser empurrado ou levado aos lugares que não quer
ir. Todos desejamos a liberdade para decidir o que será melhor para nós.
Acontece que todas as religiões são humanas
como expressão. Nenhuma dessas três religiões caíram prontas do céu. A
organização delas é totalmente humana. Todas as religiões como linguagem são
humanas. Quando entramos no âmbito da fé, falamos que a nossa religião nasceu
de uma inspiração divina. Assim afirmam os judeus, nós, cristãos, e também os
muçulmanos.
Ficando na nossa religião, nós afirmamos que
Jesus Cristo é o Filho de Deus, esta é a base divina da nossa religião. O que
precisa de um ato de fé, ou seja, existem pessoas que não vão aceitar isto e
dirão que Jesus não passava de um homem, que era apenas um homem qualquer. Mas
para nós, que temos fé, Ele é o Filho de Deus, o Deus encarnado, Aquele que
venceu a morte e continua vivo no meio de nós. Repito, esta verdade pertence ao
mundo da fé, ao mundo do “eu creio” e do “nós cremos”.
Nós fundamentamos a nossa fé na experiência
dos primeiros cristãos, portanto, na fé de homens e mulheres que conheceram
Jesus, que viveram com Ele e que foram testemunhas privilegiadas. Essas
primeiras experiências com o Senhor foram escritas e estão contidas no livro
que conhecemos como Novo Testamento. Esse livro para nós é um livro sagrado,
pois guarda as experiências sagradas dessas pessoas. (Entendamos aqui sagrado
não como algo que está fora de nós, mas algo que é muito caro para a gente, que
amamos demais, que é muito importante para nós. Alguns afirmam que a mãe é sagrada,
que a família é sagrada, que a esposa é sagrada, que a namorada é sagrada, que
a cama do casal é sagrada etc).
A fé das pessoas sempre é sagrada, mesmo que
a pessoa acredite muito mais num pedaço de gesso do que no amor misericordioso
do Pai. Essa fé é sagrada e merece respeito sempre. Pois a fé faz parte do
nosso santuário pessoal, daquela intimidade que ninguém mais conhece, somente
você e Deus. A fé mora ali, no mesmo lugar onde mora o amor, a amizade, a
gratuidade, o bem, o gosto pela beleza, pela justiça, o desejo de ser mais, de
ser feliz, de não errar tanto. Esse é o santuário de cada um, ali mora a fé,
por isso a fé merece respeito sempre, mesmo que seja uma fé ingênua e simples.
O que não significa que não devamos procurar amadurecer a nossa fé. Ninguém
deve se contentar com apenas rezar o terço, ou fazer caminhadas nas procissões,
fazer promessas, rezar pulando (tudo isto pode ser importante), mas somos
convidados a caminhar sempre, a buscar a intimidade, a profundidade na nossa
relação com Deus.
Na base da nossa fé está a experiência divina
de um Deus que por amor enviou o seu Filho ao mundo. Como organização, a
religião é totalmente humana, é histórica, precisa da cultura, dos costumes
para se expressar. Assim podemos dizer que a religião nasce sempre como
expressão de Amor de Deus, mas na hora de colocarmos isso em prática, quase
sempre falhamos, pois a nossa parte é falível.
A religião para ser autêntica deve ser como
uma mão estendida ao crente no caminho da liberdade e na saudável relação
filial com Deus. Isto é, a religião deve ajudar o crente a caminhar confiante
em Deus, a igreja deve ser um lugar privilegiado desta aprendizagem. A
comunidade deve ser especialista em ajudar as pessoas a confiar mais em Deus do
que em normas. A religião deve ser liberdade e não medo, deve ser confiança em
Deus e não ameaças.
Quem é que não gosta de caminhar com os
próprios pés? Pois Jesus veio justamente para nos ajudar
neste caminho de liberdade pessoal, que somente poderá ser plena como expressão
desse amor construído no silêncio do encontro com Ele. É uma beleza ver cristãos
livres diante da vida! Livres e responsáveis, que não temem diante dos irmãos e
diante do Senhor não como expressão da sua arrogância, mas da sua confiança,
que não precisam fingir o que não são, que não estão preocupados demais em
agradar todo mundo porque sabem que o seu agir está pautado na palavra de Deus
e não apenas em expectativas humanas.
Todas as
religiões nasceram boas (o Concílio Vaticano II afirma timidamente que em cada
uma delas habita a sementinha do Verbo). Infelizmente a organização dela, a parte
humana, deixa muitas vezes a desejar, mas a boa notícia é que estamos
caminhando, que estamos aprendendo. Não podemos mais repetir erros do passado.
Graças a Deus, com o nosso atual Papa, voltamos devagarinho o nosso olhar à
vida real das pessoas. É como se o Papa dissesse para cada cristão que ele não
precisa deixar de ser o que é para ser cristão. É com certeza uma confiança
inabalável em Deus, é confiar que é Deus quem conduz a nossa história. Ainda
bem que Deus age misteriosamente na nossa história que chega a nos surpreender
de tanto em tanto.
A religião hoje
pode ser caminho de imaturidade, de dependência doentia e até mesmo de
violência; mas ela também pode ser uma boa notícia que começa pela sua vida,
que perpassa a vida da família, que chega até as nossas comunidades produzindo
vida nova.
Sendo assim a
religião é um lugar onde nos sentimos bem, porque é um espaço da nossa casa e
não um lugar de medo, onde vamos cumprir com as nossas obrigações (Cansei de
ouvir “vou a missa para cumprir com a minha obrigação de cristão”. Para um
cristão maduro não pode existir obrigações, mas sim responsabilidade e atitudes
de gratuidades que mostrem com gestos, palavras e vida o que de verdade
acredita).
A liberdade
diante de Deus é o primeiro sinal de maturidade religiosa.
* Fontes das magens: Internet.
* Fontes das magens: Internet.
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