terça-feira, 9 de dezembro de 2014

O SORRISO DE DEUS


Entre as tantas qualidades que nos diferenciam dos animais está a nossa capacidade de sorrir. Nenhum animal consegue sorrir, embora alguns deles gostem de brincar, mas não conseguem sorrir. O sorriso é uma exclusividade humana, é uma expressão da interioridade, do estado espiritual. O riso autêntico, aquele espontâneo, expressa o estado emocional, a alegria, o contentamento, a felicidade. O riso mostra o lado gracioso do coração humano.

Na Teologia Medieval havia, entre outras discussões, que hoje nos parecem anacrônicas, a pergunta sobre se Deus poderia ou não sorrir. E a resposta que prevaleceu por séculos afirmava que era impossível que Deus sorrisse.

O escritor italiano Umberto Eco no seu livro “O nome da Rosa”, que depois virou filme, coloca como centro temático a questão do riso. Num tradicional mosteiro, misteriosamente começam a morrer alguns monges cuja causa deve ser revelada por um enviado para investigar o caso. A resposta para o enigma está no centro da biblioteca do mosteiro, num livro grosso, cujas folhas foram envenenadas.

A resposta surpreendente está justamente nesse livro. Por que alguém iria envenenar as páginas de um livro? O que tinha esse livro de especial? O livro era de piadas, que os monges descobriram e iam escondidos de noite para lê-lo e “matar-se” de dar risadas.

A ideia do livro de Umberto Eco expressa brilhantemente como era a compreensão que se tinha de Deus. (Com certeza Alguém muito sério que desconfiava de todos aqueles que sorriam na calada da noite conventual). Um Deus sério, um Deus incapaz de sorrir, que não gosta de gente que ri à toa. (Hoje sabemos que gente que se leva muito à sério deve sofrer algum tipo de problema de autoestima).

Desde criança aprendemos que a Igreja é um lugar muito sério, porque “Deus é muito sério”, parece que Ele não gosta muito de crianças, de risadas, de pessoas falando. Na igreja todo o mundo deve ficar quieto, com a cabeça baixa, e nem pensar em sorrir. Isto é um equivoco que provêm da ideia de que Deus somente pode morar na perfeição das coisas estáticas, nas coisas que não se movem, nas coisas perfeitas. Seriedade + perfeição = Deus.

Graças ao mesmo Deus, com a ajuda da própria teologia e de outras ciências fomos valorizando tudo o que tem a ver com a nossa vida. Deus é vida, Deus é alegria, Deus é sorriso, por isso a igreja deve ser o lugar da vida, da alegria e do sorriso.

A igreja não é um teatro onde cada ator deve representar o seu papel, e o público que chega, senta no seu lugar e assiste em silêncio respeitoso (sem ligar o celular) ao espetáculo. A igreja não é um teatro, ela é o lugar da vida, é a casa da nossa vida.

Por isso a igreja não pode ser um mercado onde todo mundo fala, grita e ninguém se entende, a igreja não pode ser o lugar de um show, onde os cantores imitam os astros da televisão. A igreja é lugar da vida, mas daquela vida familiar, tranquila, com espaço para o encontro com os irmãos, de diálogo, lugar para o sorriso, para o silêncio, para o respeito, para a reflexão e especialmente para o diálogo íntimo com Deus.

Tudo o que é exagerado atrapalha. Seriedade demais deve espantar até mesmo a Deus. Mas bagunça demais também não ajuda em nada. Na igreja, assim como numa casa, o equilíbrio é fundamental. Uma casa séria demais deve ser muito chata, mas uma casa onde somente tem música a todo volume deve ser horrível.

Mas será que Deus gosta mesmo de sorrir? Naturalmente estamos lidando com uma imagem humana, nós sorrimos, nós gostamos de sorrir, até mesmo contamos piadas com a única finalidade do riso. Não sabemos se Deus sorri como a gente, e não creio que tenha importância a questão. Agora, o que é fundamental é reconhecer que Deus expressa muito bem o que sentimos quando sorrimos.

Quem é mãe ou pai sabe o significado de um sorriso transparente. O pai e a mãe experimentam uma alegria única quando carregam os seus filhos em seus braços e não é preciso prestar muita atenção para perceber como o coração deles transborda de alegria. Os seus lábios não se cansam de mostrar esse contentamento.

O sorriso de Deus expressa-se nessa imagem do menino que veio ao mundo. O sorriso de Deus é a alegria de uma criança que nasceu entre nós. “Envio o meu Filho ao mundo porque amo cada um de vocês, meus filhos, porque amo o mundo, porque Eu sou o Amor, porque Eu sou a alegria, porque eu sou a beleza da gratuidade”. Com outras palavras, São João, testemunha esta verdade.

A imagem de Deus que tenho é a de um Pai que tem nos braços o seu Filho, em cujo rosto resplandece o amor da gratuidade.

O sorriso de Deus é o Natal. É a Boa Notícia de que somos amados por Ele: “Deus amou tanto o mundo que enviou o seu próprio Filho”. O Natal, desse modo, é sempre um lembrete do Amor divino. Só que é um Amor oferecido que precisa ser aceito para que produza os frutos concretos, que devem ser mais Amor e mais gratuidade.

É muito fácil, porém, dizer que Deus nos ama ou que amamos a Deus, isto pode não passar de uma ideia que repetimos sem tomarmos consciência da sua importância e das suas consequências. Terá algum valor ser amado por Deus se eu sou incapaz de amar o meu próximo? Terá algum valor afirmar que Amo a Deus quando sou intratável e mal educado com o meu próximo?

O sorriso de Deus que é o Natal deve ser uma festa assumida na vida, que deve tornar a nossa vida mais alegre e gratuita. O amor deve nos tornar mais humanos, mais fraternos, menos arrogantes e mais sábios. (O Natal é um caminho que deve ser percorrido diariamente, não é mesmo?).

Com esta última postagem deste ano, desejo a você e a sua família, Feliz Natal, que a Graça do Sorriso Luminoso de Deus (que é o seu Filho entre nós) ilumine e contagie de alegria e felicidade a nossa vida. 

Boas Festas e realizações para 2015!

*Imagens: Internet.

2 comentários:

  1. Amém, que a alegria do Senhor seja nossa força. Boas festas e tudo de melhor para você. Abraços

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