Entre as tantas qualidades que nos diferenciam
dos animais está a nossa capacidade de sorrir. Nenhum animal consegue sorrir,
embora alguns deles gostem de brincar, mas não conseguem sorrir. O sorriso é
uma exclusividade humana, é uma expressão da interioridade, do estado
espiritual. O riso autêntico, aquele espontâneo, expressa o estado emocional, a
alegria, o contentamento, a felicidade. O riso mostra o lado gracioso do
coração humano.
Na Teologia Medieval havia, entre outras
discussões, que hoje nos parecem anacrônicas, a pergunta sobre se Deus poderia
ou não sorrir. E a resposta que prevaleceu por séculos afirmava que era
impossível que Deus sorrisse.
O escritor italiano Umberto Eco no seu livro “O
nome da Rosa”, que depois virou filme, coloca como centro temático a questão do
riso. Num tradicional mosteiro, misteriosamente começam a morrer alguns monges
cuja causa deve ser revelada por um enviado para investigar o caso. A resposta
para o enigma está no centro da biblioteca do mosteiro, num livro grosso, cujas
folhas foram envenenadas.
A resposta surpreendente está justamente nesse
livro. Por que alguém iria envenenar as páginas de um livro? O que tinha esse livro de especial? O livro era de piadas, que os
monges descobriram e iam escondidos de noite para lê-lo e “matar-se” de dar
risadas.
A ideia do livro
de Umberto Eco expressa brilhantemente como era a compreensão que se tinha de Deus.
(Com certeza Alguém muito sério que desconfiava de todos aqueles que sorriam na
calada da noite conventual). Um Deus sério, um Deus incapaz de sorrir, que não
gosta de gente que ri à toa. (Hoje sabemos que gente que se leva muito à sério
deve sofrer algum tipo de problema de autoestima).
Desde criança
aprendemos que a Igreja é um lugar muito sério, porque “Deus é muito sério”,
parece que Ele não gosta muito de crianças, de risadas, de pessoas falando. Na igreja
todo o mundo deve ficar quieto, com a cabeça baixa, e nem pensar em sorrir.
Isto é um equivoco que provêm da ideia de que Deus somente pode morar na
perfeição das coisas estáticas, nas coisas que não se movem, nas coisas perfeitas.
Seriedade + perfeição = Deus.
Graças ao mesmo
Deus, com a ajuda da própria teologia e de outras ciências fomos valorizando
tudo o que tem a ver com a nossa vida. Deus é vida, Deus é alegria, Deus é sorriso,
por isso a igreja deve ser o lugar da vida, da alegria e do sorriso.
A igreja não é
um teatro onde cada ator deve representar o seu papel, e o público que chega,
senta no seu lugar e assiste em silêncio respeitoso (sem ligar o celular) ao
espetáculo. A igreja não é um teatro, ela é o lugar da vida, é a casa da nossa
vida.
Por isso a
igreja não pode ser um mercado onde todo mundo fala, grita e ninguém se entende,
a igreja não pode ser o lugar de um show, onde os cantores imitam os astros da
televisão. A igreja é lugar da vida, mas daquela vida familiar, tranquila, com
espaço para o encontro com os irmãos, de diálogo, lugar para o sorriso, para o
silêncio, para o respeito, para a reflexão e especialmente para o diálogo íntimo
com Deus.
Tudo o que é
exagerado atrapalha. Seriedade demais deve espantar até mesmo a Deus. Mas bagunça
demais também não ajuda em nada. Na igreja, assim como numa casa, o equilíbrio
é fundamental. Uma casa séria demais deve ser muito chata, mas uma casa onde
somente tem música a todo volume deve ser horrível.
Mas será que
Deus gosta mesmo de sorrir? Naturalmente estamos lidando com uma imagem humana,
nós sorrimos, nós gostamos de sorrir, até mesmo contamos piadas com a única finalidade
do riso. Não sabemos se Deus sorri como a gente, e não creio que tenha
importância a questão. Agora, o que é fundamental é reconhecer que Deus
expressa muito bem o que sentimos quando sorrimos.
Quem é mãe ou
pai sabe o significado de um sorriso transparente. O pai e a mãe experimentam
uma alegria única quando carregam os seus filhos em seus braços e não é preciso
prestar muita atenção para perceber como o coração deles transborda de alegria.
Os seus lábios não se cansam de mostrar esse contentamento.
O sorriso de
Deus expressa-se nessa imagem do menino que veio ao mundo. O sorriso de Deus é a
alegria de uma criança que nasceu entre nós. “Envio o meu Filho ao mundo porque
amo cada um de vocês, meus filhos, porque amo o mundo, porque Eu sou o Amor,
porque Eu sou a alegria, porque eu sou a beleza da gratuidade”. Com outras
palavras, São João, testemunha esta verdade.
A imagem de Deus
que tenho é a de um Pai que tem nos braços o seu Filho, em cujo rosto resplandece
o amor da gratuidade.
O sorriso de
Deus é o Natal. É a Boa Notícia de que somos amados por Ele: “Deus amou tanto o
mundo que enviou o seu próprio Filho”. O Natal, desse modo, é sempre um lembrete
do Amor divino. Só que é um Amor oferecido que precisa ser aceito para que
produza os frutos concretos, que devem ser mais Amor e mais gratuidade.
É muito fácil,
porém, dizer que Deus nos ama ou que amamos a Deus, isto pode não passar de uma
ideia que repetimos sem tomarmos consciência da sua importância e das suas consequências.
Terá algum valor ser amado por Deus se eu sou incapaz de amar o meu próximo? Terá
algum valor afirmar que Amo a Deus quando sou intratável e mal educado com o
meu próximo?
O sorriso de
Deus que é o Natal deve ser uma festa assumida na vida, que deve tornar a nossa
vida mais alegre e gratuita. O amor deve nos tornar mais humanos, mais
fraternos, menos arrogantes e mais sábios. (O Natal é um caminho que deve ser
percorrido diariamente, não é mesmo?).
Com
esta última postagem deste ano, desejo a você e a sua família, Feliz Natal, que
a Graça do Sorriso Luminoso de Deus (que é o seu Filho entre nós) ilumine e
contagie de alegria e felicidade a nossa vida.
Boas Festas e realizações para 2015!
*Imagens: Internet.
*Imagens: Internet.
Amém, que a alegria do Senhor seja nossa força. Boas festas e tudo de melhor para você. Abraços
ResponderExcluirMarcela, abraço para você e sua família.
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