quinta-feira, 5 de março de 2015

A PROPÓSITO DA ESPIRITUALIDADE

Você tem uma espiritualidade? É claro que tenho, sou um ser humano!
Cada ser humano tem um modo de viver a sua espiritualidade, que nem sempre tem a ver com experiências religiosas. Acontece que nós associamos imediatamente o espiritual com o religioso, embora muitas pessoas vivam a sua espiritualidade sem acreditar em Deus.
Quem vive a sua espiritualidade dentro de uma determinada experiência religiosa como o cristianismo, com frequência comete um erro muito comum que consiste em acreditar que a espiritualidade seja algo exclusivamente religioso. Dito de outro modo, muitas vezes acreditamos que a espiritualidade seja como um instrumento (um aparelho) religioso que precisa ser carregado como se fosse uma bateria. Essa ideia é perigosa, pois pode nos levar a acreditar que a dimensão mais importante do ser humano seja a espiritual em detrimento da corporal.
Na verdade o ser humano é um todo, quando vivemos a nossa corporeidade vivemos a nossa humanidade e quando vivemos a espiritualidade vivemos a nossa humanidade, ou seja, não pode haver uma divisão como se fossem duas caixinhas.
A nossa confusão ainda é maior quando essa separação é extrema e afirmamos que a espiritualidade é a única parte boa da vida. Essa divisão (compartimentação) nos levar a perceber a vida em pequenas caixas. Umas caixas são boas e outras mais ou menos. As caixas espirituais são boas, as caixas da corporeidade mais ou menos. Rezar é bom, mas ir à balada nem tanto. Rezar é de Deus, mas um copo de vinho ou uma lata de cerveja pode ser do diabo. São confusões que as pessoas fazem ao separar essas duas realidades humanas.
Não existe ou não deveria existir tal separação. Espiritualidade e corporeidade formam uma única realidade, mas nós gostamos de separar tais realidades. Exemplo: agora vou à missa, é o tempo da espiritualidade, depois vou ao churrasco de um amigo que será o tempo da corporeidade. Eis o equívoco: tanto a missa quanto churrasco fazem parte da realidade humana e não deveria haver tal divisão.
Viver a espiritualidade como um cristão consiste naturalmente em alimentar-se da Palavra de Deus diariamente, participar da comunidade, ter algumas atividades pastorais, mas também inclui principalmente a vivência familiar, a mesa partilhada, as conversas, as risadas, o jornal na televisão, a novela, assim como o momento do trabalho, do estudo, do lazer etc.
Ninguém deveria dizer, “agora vou viver a minha espiritualidade”, porque a vida é uma só e devemos tentar viver de tal modo que não tenhamos vergonha de dizer ao Deus da nossa vida: “Neste momento Tu estás aqui”.  
(Têm muitos cristãos que preferem fazer a divisão entre a espiritualidade e a corporeidade porque desse modo podem dizer: “agora é o momento de Deus e depois posso fazer o que quero”, porque o resto do dia já não será “tempo de Deus”). Quantos cristãos que participam dos cultos, das missas, são “perfeitos” quando estão na igreja, mas depois não duvidam em enganar, mentir, roubar às pessoas. A nossa política está cheia de exemplos de “cristãos fervorosos”, que se revelam “verdadeiros malandros” na hora de administrar o que deveria ser administrado com honestidade uma vez que se trata do bem comum.
Para muitos a divisão entre espiritualidade e corporeidade convêm para justificar as suas incoerências.
Uma religiosidade saudável não pode alimentar o dualismo, as duas caixas, uma vez que o ser humano é uno. Se o meu corpo está doente eu estou doente, se o meu espírito está doente eu estou doente, aliás é um equívoco dizer “meu corpo”  e “meu espírito”, porque sou corpo e espírito ao mesmo tempo, sou uno.
A esquizofrenia consiste justamente na ideia da dualidade entre bem e mal, puro e impuro, condenação e salvação, corpo e espírito. A realidade humana engloba tudo isso, de modo que quem afirmar que é totalmente puro ou totalmente santo é um mentiroso, assim como não existe nem um ser humano que seja um caso perdido.
O segredo para uma vivência religiosa saudável reside na aceitação deste princípio básico: a vida é rica demais para ser apenas corpo ou para ser apenas espírito. A vida é muito mais do que tudo isso. Quem é cristão que procure ser um bom cristão integralmente, que procure ser humano de verdade, porque podemos negar tudo, até mesmo podemos negar que Deus existe, mas o que não podemos negar é que devemos procurar viver com dignidade a nossa humanidade.

*Fonte das imagens: internet.

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