Você tem uma
espiritualidade? É claro que tenho, sou um ser humano!
Cada ser
humano tem um modo de viver a sua espiritualidade, que nem sempre tem a ver com
experiências religiosas. Acontece que nós associamos imediatamente o espiritual
com o religioso, embora muitas pessoas vivam a sua espiritualidade sem
acreditar em Deus.
Quem vive a
sua espiritualidade dentro de uma determinada experiência religiosa como o
cristianismo, com frequência comete um erro muito comum que consiste em
acreditar que a espiritualidade seja algo exclusivamente religioso. Dito de
outro modo, muitas vezes acreditamos que a espiritualidade seja como um
instrumento (um aparelho) religioso que precisa ser carregado como se fosse uma
bateria. Essa ideia é perigosa, pois pode nos levar a acreditar que a dimensão
mais importante do ser humano seja a espiritual em detrimento da corporal.
Na verdade o
ser humano é um todo, quando vivemos a nossa corporeidade vivemos a nossa
humanidade e quando vivemos a espiritualidade vivemos a nossa humanidade, ou
seja, não pode haver uma divisão como se fossem duas caixinhas.
A nossa
confusão ainda é maior quando essa separação é extrema e afirmamos que a
espiritualidade é a única parte boa da vida. Essa divisão (compartimentação) nos
levar a perceber a vida em pequenas caixas. Umas caixas são boas e outras mais
ou menos. As caixas espirituais são boas, as caixas da corporeidade mais ou
menos. Rezar é bom, mas ir à balada nem tanto. Rezar é de Deus, mas um copo de
vinho ou uma lata de cerveja pode ser do diabo. São confusões que as pessoas
fazem ao separar essas duas realidades humanas.
Não existe ou
não deveria existir tal separação. Espiritualidade e corporeidade formam uma
única realidade, mas nós gostamos de separar tais realidades. Exemplo: agora
vou à missa, é o tempo da espiritualidade, depois vou ao churrasco de um amigo
que será o tempo da corporeidade. Eis o equívoco: tanto a missa quanto churrasco
fazem parte da realidade humana e não deveria haver tal divisão.
Viver a
espiritualidade como um cristão consiste naturalmente em alimentar-se da
Palavra de Deus diariamente, participar da comunidade, ter algumas atividades
pastorais, mas também inclui principalmente a vivência familiar, a mesa
partilhada, as conversas, as risadas, o jornal na televisão, a novela, assim
como o momento do trabalho, do estudo, do lazer etc.
Ninguém deveria
dizer, “agora vou viver a minha espiritualidade”, porque a vida é uma só e
devemos tentar viver de tal modo que não tenhamos vergonha de dizer ao Deus da
nossa vida: “Neste momento Tu estás aqui”.
(Têm muitos
cristãos que preferem fazer a divisão entre a espiritualidade e a corporeidade
porque desse modo podem dizer: “agora é o momento de Deus e depois posso fazer
o que quero”, porque o resto do dia já não será “tempo de Deus”). Quantos
cristãos que participam dos cultos, das missas, são “perfeitos” quando estão na
igreja, mas depois não duvidam em enganar, mentir, roubar às pessoas. A nossa
política está cheia de exemplos de “cristãos fervorosos”, que se revelam “verdadeiros
malandros” na hora de administrar o que deveria ser administrado com honestidade
uma vez que se trata do bem comum.
Para muitos
a divisão entre espiritualidade e corporeidade convêm para justificar as suas
incoerências.
Uma
religiosidade saudável não pode alimentar o dualismo, as duas caixas, uma vez
que o ser humano é uno. Se o meu corpo está doente eu estou doente, se o meu
espírito está doente eu estou doente, aliás é um equívoco dizer “meu
corpo” e “meu espírito”, porque sou
corpo e espírito ao mesmo tempo, sou uno.
A
esquizofrenia consiste justamente na ideia da dualidade entre bem e mal, puro e
impuro, condenação e salvação, corpo e espírito. A realidade humana engloba
tudo isso, de modo que quem afirmar que é totalmente puro ou totalmente santo é
um mentiroso, assim como não existe nem um ser humano que seja um caso perdido.
O segredo para uma vivência religiosa saudável
reside na aceitação deste princípio básico: a vida é rica demais para ser
apenas corpo ou para ser apenas espírito. A vida é muito mais do que tudo isso.
Quem é cristão que procure ser um bom cristão integralmente, que procure ser
humano de verdade, porque podemos negar tudo, até mesmo podemos negar que Deus existe, mas o que não podemos negar é que devemos procurar viver com dignidade
a nossa humanidade.
*Fonte das imagens: internet.
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