A
espiritualidade não é uma ferramenta religiosa, ela é uma dimensão do que
somos. Sou um ser espiritual. (Muitos acreditam que a razão seja como uma
máquina dentro da nossa cabeça ou que a fé seja como um crivo material por onde
passam tudo o que se refere a Deus. Tanto a razão como a fé não são máquinas,
elas fazem parte da nossa dimensão espiritual).
Na vida existem
muitos modos de viver a dimensão espiritual. Alguns a vivem a partir da fé em
Deus e outros sem uma fé religiosa. Viver a espiritualidade a partir da fé não
significa deixar de alimentar o espírito com todas as dádivas que Deus nos
concedeu. A beleza da natureza é a primeira grande fonte da espiritualidade. A
contemplação da natureza e de tudo o que é belo nos ajuda a entrar em sintonia
com o nosso “eu” mais profundo (O “eu” mais profundo não significa que existiam
vários “eus”, mas apenas que o “eu” de todos os dias pode estar apenas na
superficialidade da vida. Viver somente na superfície significa não se
aprofundar nas coisas importantes da vida. Preferimos ficar na mera distração e
sabemos hoje que os meios de comunicação, televisão, cinema, internet, músicas,
livros, procuram nos entreter. Trata-se da famosa cultura do entretenimento. O
que naturalmente na dose certa é inofensiva).
O perigo
reside justamente na overdose da cultura do entretenimento, da cultura da
distração, quando ela pretende ocupar todos os lugares da nossa vida
espiritual, de modo que não oferece mais espaço para o encontro pessoal, para o
encontro consigo mesmo (é como se ninguém mais tivesse tempo de se olhar no
espelho para ver todas as suas qualidades e os seus defeitos). A overdose da
cultura da distração pode atrofiar as capacidades espirituais humanas como o
encontro gratuito com o outro, encontro que não obedece a nenhuma pretensão
utilitarista, a profundidade do pensamento (somente dizemos que achamos –“eu
acho”- sem refletirmos bem sobre as coisas), podemos perder a nossa capacidade
de sonhar ao confundir completamente a vida com a distração (não me importo com
o que acontece com o meu país, não vou fazer nada pela sociedade, nos isolamos
porque perdemos a capacidade de uma visão crítica da realidade.
Quero dizer
com isto que alimentar uma espiritualidade sadia exige esforço. Para nós que
somos cristãos a espiritualidade é fundamental, pois além de vivermos a partir
da fé em Jesus, procuramos não descuidar toda a criação de Deus assim como a
criação humana como fontes da beleza. Porque assim como o amor somente pode vir
de Deus, também a beleza que nos transporta da nossa realidade vem de Deus.
Desse modo,
para um cristão, é fundamental a atitude de contemplação diante da natureza que
consideramos obra de Deus, como um instante de encontro pessoal, como um
momento de profundidade, de silêncio reflexivo, de introspecção, de diálogo
íntimo, de sonhos, de imaginação, de desejo de melhorar a própria vida e a dos
outros. Assim, a contemplação se converte num diálogo com Deus, que é o nome
que damos à oração. O nascer do sol, o pôr do sol, o arco-íris, as nuvens, a
chuva, as árvores, as plantas, as flores, as montanhas, o chão, a água, o rio,
o mar, todos os animais etc., são convites constantes à contemplação
espiritual.
Outro modo
de viver a espiritualidade é deliciar-se diante das obras humanas, toda forma
de beleza produzida pela humanidade. Ficar uns minutos diante de uma obra de
arte, uma pintura, uma escultura, ler um poema e silenciar, ouvir uma boa
música com os olhos fechados, ler um bom livro e deixar-se questionar pelas
questões humanas fundamentais. Compartilhar um bolo maravilhoso preparado por
umas mãos generosas, uma conversa gratuita com um amigo, uma piada boa e o
sorriso, tudo pode ser momento altíssimo de espiritualidade. Perceba que estou
querendo dizer que a espiritualidade passa pela vida, que muitas vezes a
cultura do entretenimento e da distração dificulta a vivência desses momentos
fundamentais.
Nós cristão
fomos educados a desconfiar da “alegria excessiva”, da felicidade, do prazer,
como se a vida tivesse que ser eternamente um “vale de lágrimas” e por isso
meio que ficamos encabulados diante dos prazeres da vida. Nunca estamos
totalmente à vontade diante do prazer, quase sempre devemos nos policiar como
se nos perguntássemos o tempo todo se não estamos fazendo alguma coisa errada.
Com certeza você se assustaria se depois de uma confissão o padre dissesse que
no lugar das três Ave-Marias e três Pai-nossos, como penitência, você fosse tomar
um copo de chope bem gelado. (O que será que você pensaria?
Com certeza levaria um susto, pois o prazer de um cafezinho, de uma cerveja, de
um copo de vinho, de um sorvete, parece que pertence a outro âmbito onde Deus quase
nunca está presente).
A
espiritualidade não é exclusividade do âmbito religioso, porque ela faz parte essencial
da vida de cada um de nós.
*Imagens: Internet
Simplesmente Magnifico . Gratidåo Oscar!
ResponderExcluirObrigado Carla, que bom que gostou. Abraço.
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