Jesus Cristo é a presença do Pai, por Jesus
ficamos sabendo muito de Deus; não tudo, porque Ele continuará sendo um
mistério e é muito bom que assim seja, pois nós, seres humanos, temos a
tentação de dominar o que conhecemos demais. Sempre que a teologia pretendeu
saber tudo de Deus correu o risco de convertê-lo num ídolo. Quanta tristeza num
Deus que nem pode se mexer, que nem pode falar, porque nós nos mexemos e
falamos por Ele. Mas com frequência falamos apenas por nós mesmos e não em nome
Dele. Aquilo que conheço totalmente pode ser dominado com facilidade, pode ser manipulado
e convertido num ídolo.
Por Jesus ficamos sabendo, pelo menos
parcialmente, de Deus, mas o suficiente para que a nossa vida seja muito
melhor. O Concílio Vaticano II afirma que sabemos o suficiente para a nossa
salvação, compreendendo “salvação” aqui como uma vida em Deus aqui mesmo no
mundo e com a esperança depois, que esse encontro seja pleno (como essa segunda
parte ainda é uma esperança somos obrigados a nos concentrar e a nos preocupar no
“aqui e agora”, no nosso mundo, na nossa sociedade, na nossa vida, na vida das
pessoas, dos pais, dos casais, dos filhos etc.).
O Deus revelado por Jesus é um convite à
liberdade; infelizmente a religião organizada apresentou Deus muito mais como
um grande Juiz e não como um Pai amoroso. (A própria Igreja nos foi apresentada
como uma daquelas madrastas bruxas, das histórias infantis, que fazem sofrer os
filhos que não são seus, colocando sobre eles pesos que elas são incapazes de
carregar. Graças a Deus o Concílio Vaticano II procurou mudar isso e o
conseguiu em parte; ultimamente o Papa Francisco está se esforçando para
mostrar-nos que a Igreja deve ser uma mãe e não uma madrasta).
Existem, infelizmente, muitos religiosos
exaltados falando em nome de Deus e que não falam de outras coisas senão da
sexualidade, “que sexo é pecado”, “que isto ou aquilo”, dando um peso exagerado
a tais questões. Quando alguém tem fixação por estes temas deveria procurar
ajuda psicológica com toda tranquilidade. Estas pessoas pensam que o único
pecado importante para Deus tem a ver com questões sexuais. É verdade que uma
vida desordenada neste âmbito leva quase sempre à solidão e à tristeza. Aliás,
toda desordem na vida tem os mesmos efeitos, todas as dependências levam à
tristeza, seja do álcool, do sexo, das drogas, das pessoas, dos ídolos etc.
A religião autêntica deve ser caminho de
liberdade e não de dependência. Não existe nada mais triste do que a
dependência. “Eu amo você porque dependo de você”, isso não é amor, é
dependência. “Deus, vou rezar porque senão fico triste”, isso não é oração é
refúgio. “Vou dar um prato de alimento a alguém, porque assim poderei ir para o
céu”, isso não é caridade, é interesse. “Nossa Senhora, vou fazer uma promessa,
caminharei até o seu santuário se passar de ano na escola”, isso não é
confiança, mas espírito comercial.
A religião autêntica é um caminho de
libertação (uso esta palavra com temor, pois muitos não podem ouvir esta
palavra porque a associam com a Teologia da Libertação, que foi demonizada por
pessoas que jamais a conheceram). Utilizo esta palavra recorrendo ao Evangelho
de São João, “Se vocês guardarem a minha palavra, vocês de fato serão meus
discípulos; conhecerão a verdade, e a verdade vos libertará” (Jo 8, 31-32).
Jesus é o rosto libertador de Deus Pai, aquele que veio para que a nossa vida
seja mais, para que seja uma vida abundante.
Existem muitas passagem bíblicas que nos
ajudam a perceber esta proposta de Jesus; por exemplo as bodas de Caná, narrada
apenas por São João, nos outros evangelhos não existe esta festa. Ela ilustra
muito bem como deve ser compreendida a “vida em abundância”, uma vida alegre,
confiante, bem humorada, comprometida, responsável, mas também com uma mesa
cheia entre familiares e amigos, com bom vinho, com uma comida boa; não é isso
que fazemos aos domingos quando compartilhamos, na casa da mãe, aquela comida
gostosa?,
e tem cerveja, e tem vinho, e tem frango e carne, feijão e até sobremesa?
Então alguém poderá dizer, “mas isso nem
todos têm”; é verdade, mas todos deveriam ter, se não têm será por que alguma
coisa está errada. Injustiça, corrupção, pobreza, etc. O que sei é que o mundo
tem o suficiente para que em cada mesa haja a alegria da abundância e da festa.
Uma preciosidade, com relação a esta queixa,
podemos encontrar na passagem do Evangelho de São João, quando Judas protesta
ao ver a mulher derramar um frasco inteiro de perfume nos pés de Jesus. Judas
disse que poderiam vender esse perfume para ajudar muitos pobres. Então o
comentarista afirma que Judas não estava preocupado com os pobres, pois ele era
o encarregado pela bolsa do dinheiro e era um ladrão. (Cf. Jo 12, 3-6). O que
importava naquele momento não era o caro perfume, nem os pobres, mas um gesto
de amor, de gratidão, de alguém que estava perdida e que fora recuperada. Ela
encontrou uma forma de agradecer “desperdiçando” um perfume muito caro. Um
gesto de amor nunca pode ser um desperdício.
Uma avó recebe os seus netos um sábado à
tarde para verem desenho animado na casa dela. Os netos pedem pipoca e guaraná
para ela. Vocês acham que a avó, que vai à cozinha preparar a pipoca, ficará
contabilizando ou pensando, “não posso gastar todo o saco de pipoca, pois
semana que vem vão querer mais”? A avó não está interessada na semana que
vem, o que ela quer é ver os seus netos felizes comendo pipoca e bebendo
guaraná até não quererem mais. A abundância da pipoca é sinal de uma vida
abundante, a abundância é sinal do Reino dos Céus. Deus Pai é como essa avó,
foi o que Jesus veio nos revelar com as suas palavras, atitudes e gestos.
O caminho da libertação é um longo processo e
o mais importante não é ficar pensando na chegada, mas estar atento ao caminho
que se está fazendo no dia-a-dia.
Optar por Deus é a possibilidade mais bonita
na nossa relação com Deus. São João afirma que Ele nos amou por primeiro. Isto
é fantástico, maravilhoso, saber que Deus Pai nos amou desde sempre.
O exemplo disso pode ser a imagem da mãe que
aguarda o nascimento do seu filho. A minha irmã número 3, (tenho 4), está
esperando o seu segundo filho; ela e o seu marido estão correndo para deixar
tudo prontinho para a chegada dessa criança. A minha sobrinha está feliz porque
terá um irmãozinho; a minha irmã me manda periodicamente notícias sobre o seu
estado, tira foto da barrigona e, dessa forma, me torna partícipe da sua
alegria. Esta criança pode ter certeza que é aguardada com muito amor pelos
seus pais, pela sua irmãzinha e por todos os familiares e amigos.
Deus é assim conosco, nos amou desde sempre
e, com certeza o que deseja para cada um de nós é: “muita pipoca e guaraná
durante a vida inteira”. Claro, o sonho que Deus tem para cada um e cada uma é
que a nossa vida seja uma vida abundante.
Somente pode optar quem é livre, saber que
somos amados não nos condiciona a dizer Sim. (Quantos namorados e namoradas
tentaram oferecer os seus amores aos seus pretendentes e receberam “não” como
resposta; o amor que sentimos não garante que também, o outro ou a outra, sinta
o mesmo que sentimos).
Escolher Deus na nossa vida deve ser
expressão da nossa liberdade. Optar por Deus é poder dizer “eu também amo você
e desejo caminhar ao seu lado”. É o nosso sim a Deus, é a nossa resposta. É o
sinal da nossa fé. É o início de um caminho juntos, você e Deus. Um caminho que
nasceu de um amor ofertado primeiramente por Deus, “Ele nos amou primeiro”, que
agora se completa com o nosso Sim.
Eis a fé como nossa resposta, da parte que
nos cabe, a nossa atitude concreta que nos abre um caminho novo; um caminho que
fazemos na confiança total nesse Deus que nos amou por primeiro.
* A primeira imagem é do artista Sergio Ricciuto.
* A segunda imagem é a minha irmã esperando o Dante.
No todo se puede comprar, pero si podemos conseguirlas poniendo la esperanza en el todo poderoso....
ResponderExcluirA veces lo más importante en nuestra vida son justamente los que no podemos comprar como la amistad, el amor, la familia, el compartir. Saludos.
ExcluirEstoy de acuerdo con esto. Las cosas más preciosas de la vida están muchas veces escondidas en simples detalles, que muchas veces pasa desapercibidos delante de nuestros ojos, a veces son hasta insignificantes, pero que dan un total sentido a la vida, como un simples saludo.
ExcluirE porque eu acredito num Deus que é pai e que caminha ao meu lado em todos os momentos,tenho procurado manter minha serenidade e confiança,porque sei que é Dele que virá o meu socorro nesses últimos dias de aflições e preocupações que temos vivido em nosso lar!
ResponderExcluirA vida cotidiana está cheia de desafios e, muitas vezes parecem espacar do nosso domínio, nesses momentos a fé deve nos carregar com os seus braços fortes e iluminar o caminho da nossa vida. Coragem e muita força.
ExcluirSabe, sempre tive a visão de Deus como minha mãe, aquela que nunca espera nada de nós, apenas que sempre voltemos para casa. E Deus é assim, Ele não nos ama esperando algo em troca, Ele simplesmente nos ama. Algumas pessoas vivem nesse conceito "isso é pecado", "aquilo é pecado" e esquece de viver o essencial que é o amor. Como é bom saber que Ele caminha conosco e nos impulsiona a buscar sempre mais. Abraço
ResponderExcluirObrigado Marcela pelo testemunho, quanto mais tivermos a Deus como o nosso Papai, a intimidade será maior e a vida Dele será a nossa vida. Abraço e saudações.
ExcluirMesmo tendo recebido de Deus o dom da liberdade, insistimos em criar prisões, nos privar e aprisionar outros, como se não fossemos dignos de tal graça. Eis o nosso desafio de sempre: aceitar o convite que o Criador nos faz de, sem medo, trilharmos o caminho da felicidade, acolhendo a vida abundante, construindo o Reino de Deus entre nós.
ResponderExcluirIsso mesmo Carla, infelizmente temos ainda muitas forças que não permitem que sejamos livres, uma delas é o esquema mental que é muito difícil de mudar. Alguém foi ensinado que Deus castiga e fica com isso na cabeça durante a vida inteira, não percebe que Jesus é o rosto amoroso, não castigador, de Deus Pai. Abraço.
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