“O sonho de Deus sempre se embate com a hipocrisia de alguns dos seus
servidores. (...) Podemos ‘frustrar’ o sonho de Deus, se não nos deixarmos
guiar pelo Espírito Santo. (...) O Espírito dá-nos a sabedoria, que supera a
ciência, para trabalharmos generosamente com verdadeira liberdade e humilde
criatividade” (Palavras do Papa Francisco na abertura do Sínodo).
Nesta postagem vou fazer um parêntesis sobre
o tema que estamos tratando para pensar com vocês sobre a atualidade da Igreja
Católica, particularmente no que se refere ao Sínodo que está acontecendo em
Roma, cujo tema é: “Os desafios pastorais da família no contexto da
evangelização”. Começou dia seis e vai até dia dezenove deste mês (outubro –
2014). Além da questão da família também está na pauta temas que para a Igreja
são “urgentes” como a pobreza, a imigração e a questão da violência. O Sínodo concluirá
com a beatificação do papa Paulo VI.
O Sínodo começou com um sinal interessante
que tem a ver com a linguagem. O Papa Francisco quis que a linguagem não seja
mais o latim e sim o italiano a língua oficial do encontro. Para início de
conversa isto é sensacional, pois é um sinal claro de mudança, de renovação. É
sabido que o latim como língua falada desapareceu há séculos permanecendo
apenas no seio da igreja, praticamente, apenas como linguagem jurídica.
Quando era estudante questionava a mania
acadêmica de criar um dialético que os intelectuais costumavam utilizar com
deleite. Achava engraçado que procurassem o modo de não ser compreendido por
leigos, por pessoas que não eram iniciadas nesse dialeto da academia. Criava-se,
a meu ver, um segundo andar onde, as pessoas que moravam no primeiro andar não
tinham acesso.
A linguagem é fundamental, por isso creio que
a decisão de adotar a língua italiana, uma língua de pessoas vivas, é
revolucionária. (Naturalmente a ala tradicionalista da Igreja não vai gostar
muito desta ideia. Para essas pessoas devemos lembrar sempre que o nosso Mestre
falava limpidamente através de parábolas muito simples e através de poesia como
as Bem-aventuranças).
É preciso deixar claro que a Igreja não está
questionando a verdade sobre o matrimônio, que
é indissolúvel. O que o Sínodo precisa ver é a realidade de pessoas que
convivem num relacionamento estável, que não receberam o sacramento porque não
querem, por diversos motivos, ou porque já foram casados na Igreja. O que o
Sínodo precisa ver é o modo como essas pessoas podem ser melhor acolhidas na
Igreja. Não se trata de afirmar que elas sejam melhores, trata-se de ver como
as pastorais da Igreja, ao invés de excluir podem acolher como o próprio Jesus
faria.
Lembro que, numa conversa informal, perguntei
a um amigo que vivia com uma mulher sem ter casado na igreja, por que comungava,
se sabia o que a Igreja dizia com relação a esse fato. O meu amigo olhou-me e
respondeu numa tranquilidade que sabia o que a Igreja dizia e que ele comungava
porque Cristo Eucarístico era muito importante para ele. Fiquei quieto, não
disse nada a ele, não fiz nenhum discurso moralista, pois ele sabia o que a
Igreja dizia com relação às pessoas que convivia sem o sacramento do
matrimônio. Eu também sabia o que Jesus disse quando lhe perguntaram sobre a
sua missão, que Ele veio para os pobres, para os doentes, para aqueles que
justamente precisam dele. (Não será necessário lembrar que os “justos e os
perfeitos” não precisam de muita coisa, pois já estão na presença de Deus). Quem
precisa de acolhida são as pessoas que quase nunca formam acolhidas.
Nas comunidades é possível perceber que as
nossas práticas pastorais quase sempre se dirigem às pessoas que fazem parte da
comunidade, pessoas que vem sempre, que procuram caminhar com a comunidade. As
pastorais não são pensadas para acolher pessoas que não desejam fazer parte da
comunidade porque não se sentem acolhidas
ou porque sentem que não se enquadram dentro da moral cristã.
Ainda é cedo para chegarmos a conclusões com
relação ao Sínodo, porém há esperança que oficialmente o nosso papa diga como
devemos tratar os irmãos e as irmãs que por ventura não deram certo no primeiro
casamento e que buscaram nova chance numa segunda união. Na “prática pastoral”
a acolhida deve acontecer de fato, e em muitas comunidades ela acontece quando
o bispo ou o pároco a incentiva. Na acolhida não está em jogo em primeiro lugar
a comunhão, mas a valorização das pessoas, da nova família, os filhos como
frutos desse amor.
Na prática pastoral o pastor deve conhecer os
seus filhos e filhas. Lembro aqui o que disse um bispo num curso de formação: “eu
tenho a obrigação de conhecer esses meus irmãos. Sabem o que eu fazia?,
levava a comunhão para esses casais na
casas deles, porque não podia negar a comunhão para um casal que vive junto há
vinte anos, que procura educar os filhos com as dificuldades que todo mundo
passa. Ou será que alguém seria capaz de dizer que nessa família não existe o
amor?
O pastor deve conhecer os seus irmãos e irmãs e se for necessário levar o
Cristo Eucarístico até as casas deles. Sabem por que fazia questão de levar a
comunhão até as casas dessas pessoas? Por temor
de escandalizar “os justos” da minha comunidade”, disse o velho bispo.
Aceitar uma situação não significa estar de acordo,
não significa concordar, mas como Igreja, o mínimo que podemos fazer é olhar
nos olhos das pessoas e acolhê-las como irmãos e irmãs que, como nós, estão
procurando viver uma vida digna na graça de Deus.
Muitas pessoas se escandalizam porque acham
que a santidade, antes de tudo, passa pela sexualidade. De modo nenhum, a
santidade passa, antes de tudo, pela dignidade de sermos “imagem e semelhança
de Deus”. O que torna alguém santo ou santa não é a sexualidade, mas o infinito
amor de Deus Pai por cada um de nós.
O sínodo se preocupa, evidentemente, com as
avalanches que a família vêm suportando e, por isso, procurará encorajar os
jovens cristãos a assumir com alegria e coragem o matrimônio como a vivência do
amor que receberam do alto. E animar aqueles que já são casados a perseverar no
amor, a não se deixar dominar pelo espírito do mundo que consiste no descarte
(uso até que serve, se encontro algo melhor posso trocar!). Aqueles que são
casados e bem casados que ajudem os jovens a ver que o amor verdadeiro não é
aquele que como um terremoto deve sacudir tudo, o amor também é um terremoto
sim, mas também é rotina, também é dor, doação, sacrifício, ternura, entrega,
paciência. O amor verdadeiro é aquele que é provado no momento da doença, das
perdas, das decepções. No mundo onde tudo e descartável, pensar que o
matrimônio será para a vida toda parece longe da realidade, mas temos infinitas provas de que o amor bem cuidado pode durar sempre.
Se por ventura, alguém se separou e encontrou um
novo amor, deve saber que a Igreja ainda é a sua casa e que o elemento que deve
ajudar a medir é o amor honesto. Não esqueçamos que Deus é amor, portanto onde
está o amor, com certeza, Deus aí está.
Esse tema é lindo e perfeito, desejo de verdade que esse blog alcance outras pessoas,em especial aquelas pessoas que parecem estar com os olhos vendados ao verdadeiro amor de Deus
ResponderExcluirObrigada Oscar por mais uma vez nos presentear com esses belos ensinamentos
Obrigado Maria pela leitura e vamos caminhando devagarzinho. Abraço.
ExcluirÉ isso aí!!
Excluir"Quem precisa de acolhida são as pessoas que quase nunca foram acolhidas. Na acolhida não está em jogo em primeiro lugar a comunhão, mas a valorização das pessoas"...não posso comentar, é nisso que creio! Bendita sabedoria Oscar.
ResponderExcluirObrigado Carla, tudo de bom para você. Abraço.
ExcluirQue um dia as pessoas de fato possam enxergar esse amor de Deus e possam acolher com amor essas pessoas que vão a igreja justamente para viver nesse amor. As pessoaa costumam rotular muito os outros, sem ao menos conhecer a vida delas. Que Deus te ilumine e que você seja instrumento para tocar o coração de muitos. Abraço
ResponderExcluirSaudações, creio que devagarzinho vamos compreendendo que a Igreja deve ser uma mãe e deve se comportar como tal. Isso acontecerá através de cada um de nós e, principalmente, através daqueles que a dirigem e tem o poder de mudar as coisas estruturalmente. Abraço.
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